top of page

“O Papa é argentino e Deus é brasileiro”: O legado de Francisco e o futuro do papado

  • carinewspuc
  • 31 de mai.
  • 5 min de leitura

Jorge Mario Bergoglio é um jesuíta argentino nascido em 17 de dezembro de 1936. Bergoglio foi eleito pontífice em 13 de março de 2013, sucedendo Bento XVI e se tornando o 266º papa da Igreja Católica. O novo papa adotou o nome de Francisco em referência a São Francisco de Assis, o santo italiano que abdicou de uma vida de posses para se dedicar aos pobres e à natureza. Francisco fez história ao se tornar o primeiro pontífice não europeu em 1200 anos e o primeiro papa lationo-americano. Durante os 12 anos em que esteve à frente da Igreja Católica, o pontífice promoveu importantes reformas e uma maior abertura da Igreja aos dilemas do mundo atual.

Alguns de seus feitos marcantes como papa são: a aprovação de uma reforma no código penal da Santa Sé que reforçou as sanções contra crimes sexuais; a discussão ecológica com a encíclica Laudato si, publicada em 2015, que trata da questão ambiental; a instituição de medidas para frear a corrupção nas contas do Vaticano, como a proibição de investimentos em paraísos fiscais e recebimento de presentes que ultrapassem o valor de 40 euros (R$ 221); a nomeação de cardeais de regiões sub-representadas e fora do eixo europeu; o rompimento com o isolacionismo e o papel ativo do Vaticano na diplomacia, atuando como mediador para o restabelecimento das relações diplomáticas entre Cuba e os EUA; o fortalecimento da presença de mulheres em funções de destaque dentro da Igreja, conquistando nomeações inéditas para cargos no Vaticano e o direito de voto em reuniões globais de bispos; a permissão de que sacerdotes abençoem casais do mesmo sexo, a defesa do direito de que homossexuais firmem uniões civis e a defesa dos direitos LGBTQIA+.

O papa também deu declarações importantes sobre os mais diversos temas. No que diz respeito à questão migratória, Francisco afirmou, em 2015: “É hipocrisia se dizer cristão e expulsar um refugiado ou alguém que busca ajuda, alguém que está com fome ou sede, expulsar alguém que precisa da minha ajuda”. Em 2016, quando Donald Trump prometeu construir um muro na fronteira dos EUA com o México, o papa declarou: "Quem pensa em construir muros e não em construir pontes não é cristão." Já em 2024, em resposta ao bombardeio israelense que causou a morte de 25 crianças em Gaza, Francisco disse: "Ontem, crianças foram bombardeadas. Isto não é uma guerra. É crueldade".

Quando se fala do Papa, é comum que a opinião pública o perceba majoritariamente como um líder religioso, dedicado às questões espirituais e humanitárias. Entretanto, essa imagem, embora real, ignora uma faceta essencial para os estudiosos de Relações Internacionais: o Papa é também um chefe de Estado e o Vaticano, embora diminuto em território, é um dos mais antigos e influentes atores de poder global. Desde a assinatura dos Tratados de Latrão em 1929, a Cidade do Vaticano é reconhecida como um Estado soberano independente, cuja chefia é exercida pelo Papa em regime de monarquia absoluta. Nesse sentido, o Papa concentra, em si, os poderes executivo, legislativo e judiciário, algo quase inexistente nos sistemas políticos modernos.

Diferente de outras lideranças religiosas, o Papa dispõe de plena capacidade jurídica para firmar tratados, manter relações diplomáticas bilaterais (por meio de seus núncios apostólicos) e influenciar decisões multilaterais em organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU), onde o Vaticano detém o status de Observador Permanente. Portanto, o Papa não é apenas o líder espiritual de 1,3 bilhão de católicos: é também um chefe de Estado soberano que movimenta as engrenagens da diplomacia global. A Igreja Católica, por sua vez, continua a ser um ator de peso no jogo político, tanto nos cenários locais quanto no plano internacional.

O Papa Francisco, desde o início de seu pontificado em 2013, tem demonstrado um profundo carinho e atenção pelo Brasil, país com o maior número de católicos do mundo. Sua visão em relação ao Brasil está alinhada aos princípios que norteiam seu papado: A promoção da justiça social, o cuidado com os pobres e excluídos, o respeito à natureza e a valorização das culturas locais. Um marco importante dessa relação foi a Jornada Mundial da Juventude de 2013, realizada no Rio de Janeiro, que marcou sua primeira viagem internacional como Papa. Na ocasião, Francisco encantou os brasileiros com sua simplicidade e proximidade com o povo, incentivando os jovens a “fazerem barulho” e a se envolverem ativamente na transformação da sociedade.

Ele também tem se posicionado de forma clara diante das desigualdades sociais que marcam o Brasil, denunciando a pobreza, a marginalização das populações periféricas e a falta de acesso a direitos básicos. Além disso, Francisco demonstra grande preocupação com a Amazônia e os povos originários, tendo convocado, em 2019, o Sínodo da Amazônia, com o objetivo de ouvir as comunidades locais e repensar a presença da Igreja na região. Em sua visão, é essencial respeitar as culturas indígenas e proteger a floresta contra o extrativismo predatório, defendendo uma “ecologia integral” que una justiça social e preservação ambiental.

Sua crítica às estruturas de poder que perpetuam desigualdades também se reflete na atenção que dá aos movimentos sociais brasileiros, como o MST, reconhecendo suas lutas por terra, trabalho e moradia. Francisco defende uma “Igreja em saída”, missionária, próxima das periferias, que atue como instrumento de esperança e transformação. Sua relação com o Brasil, portanto, vai além do afeto: revela um compromisso profundo com as causas do povo brasileiro e com a construção de um mundo mais justo e solidário.

Desse modo, pode se notar que o Papa Francisco foi não apenas um líder religioso muito bem envolvido com preceitos do catolicismo, mas além disso, um chefe de Estado totalmente comprometido em tornar o mundo um lugar melhor. Esteve engajado nas causas sociais que se tem ao redor do mundo, e sempre quis deixar muito claro que a verdadeira base do cristianismo é amar o próximo, sendo mutuamente um mentor espiritual e político. Podemos notar os impactos do seu legado tanto no mundo, como no Brasil, onde ele deu importância aos problemas enfrentados pela população brasileira e se mostrou comprometido em lutar por eles.

No dia 8 de maio de 2025, após o falecimento de Papa Francisco em 21 de abril de 2025, Robert Francis Prevost foi escolhido para o novo papado, com o nome de Papa Leão XIV. Nascido em Chicago, Illinois no dia 14 de setembro de 1969, Leão XIV se torna o primeiro papa estadunidense da história, aos 69 anos de idade. No domingo do dia 18 de maio, Papa Leão XVI iniciou formalmente seu pontificado, e em seu sermão declarou que se comprometeria em continuar o legado de Francisco, pelo menos nas questões sociais como em relação à proteção do meio ambiente ou combate à pobreza, enfrentando os desafios do mundo moderno.




UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Papa Francisco. Portal Latino-Americano, [s. d.]. Disponível em: https://sites.usp.br/portalatinoamericano/espanol-papa-francisco. Acesso em: 28 maio 2025.


O GLOBO. Uma década de Papa Francisco: relembre os dez aspectos mais marcantes do pontificado. Rio de Janeiro, 13 mar. 2023. Disponível em: https://oglobo.globo.com/google/amp/mundo/noticia/2023/03/uma-decada-de-papa-francisco-relembre-os-dez-aspectos-mais-marcantes-do-pontificado.ghtml. Acesso em: 28 maio 2025.


CNN BRASIL. Papa Francisco fortaleceu a presença de mulheres no Vaticano. São Paulo, 21 mai. 2023. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/papa-francisco-fortaleceu-a-presenca-de-mulheres-no-vaticano/. Acesso em: 28 maio 2025.


CNN BRASIL. “Deus é brasileiro”: relembre frases marcantes do Papa Francisco. São Paulo, 13 mar. 2023. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/deus-e-brasileiro-relembre-frases-marcantes-do-papa-francisco/. Acesso em: 28 maio 2025.



 
 
 

Komentarze


Em destaque

Receba notificações de novas notícias direto no seu e-mail! Cadastre-se

Email enviado!

bottom of page