Já ouviu falar em Saint Levant? Arte é resistência: Palestina em ação!
- Maria Rosa Rodrigues e Maria Eduarda de Oliveira
- 9 de abr.
- 4 min de leitura

Quando pensamos na Palestina, é comum lembrarmos de imagens de guerra, muita violência e sofrimento, seja pelo o que assistimos através das grandes mídias tendenciosas ou ainda pelas redes sociais. É claro que lembrar e falar sobre o genocídio de um povo é essencial para sua luta mas não podemos reduzir os palestinos apenas ao martírio quando são dotados de uma cultura, identidade e, principalmente, resiliência que devem ser conhecidas e valorizadas, seja através de artistas, escritores, jornalistas e mais.
Assim, nascido em Jerusalém, refugiado na Jordânia e posteriormente tendo se firmado na Califórnia, o artista Marwan Abdelhamid, mais conhecido por Saint Levant, traz sua ancestralidade palestina/francesa/argelina para a arte. Abdelhamid é um cantor e compositor de 25 anos que têm levado às plataformas de áudio e às redes sociais suas músicas repletas de representatividade de um jovem que acompanhou sua cidade natal ser praticamente dizimada, refletindo a longa história de resistência e luta, tanto palestina quanto argelina contra o colonialismo.
Além de ser um artista talentoso, misturando idiomas e estilos diferentes em suas canções, Saint Levant também é ativista e possui forte posicionamento político na questão Palestina. Seu nome artístico, tem uma origem simbólica que reflete muito bem sua identidade e nos passa uma mensagem de resistência. "Levant" é uma referência à região histórica que inclui a Palestina, o Líbano, a Síria e partes da Jordânia, enfatizando seu pertencimento a essa terra e a luta de seu povo. A palavra "Saint" (santo) confere um tom irônico e contestador, evocando a ideia de um guardião da memória e da cultura de sua terra natal. Dessa forma, seu nome artístico abarca sua missão de contar a história da Palestina e amplificar a voz de sua diáspora.
Sua herança multicultural é evidente pelos diferentes idiomas que traz em suas canções, sua mãe é franco-argelina e seu pai palestino-sérvio assim, é fluente em árabe, francês e inglês, transitando entre o rock, hip-hop e o R&B. Suas músicas carregam mensagens de resistência e pertencimento, ressoando em muitos jovens da diáspora árabe e muçulmana que enfrentam desafios de identidade e deslocamento. O artista utiliza suas mídias sociais e sua música para abordar a opressão sofrida pelos palestinos, denunciando a ocupação israelense e a violência sistemática contra seu povo.

Saint fugiu de Gaza para a Jordânia em 2007, quando tinha apenas 7 anos, em decorrência de intervenções israelenses e sua memória da região está intrinsecamente relacionada a um hotel que seu pai construiu na costa e que serviu como refúgio a jornalistas que cobriram a guerra de 2014. O hotel de seu pai, chamado Al Deira, contava com 22 quartos, azulejos pintados a mão e vista para o Mediterrâneo porém, em 2023, foi reduzido a cinzas após intensos e ininterruptos bombardeios israelenses em Gaza decorrentes da invasão liderada pelo Hamas em 7 de outubro do mesmo ano que vitimou 1.200 israelenses. Em contrapartida, desde 2023, o exército de Israel matou mais de 45 mil pessoas, muitas delas mulheres e crianças.
O jovem músico começou a trabalhar em seu novo álbum, na época, antes de outubro de 2023 e outubro de 2023 e o que era para ser um tributo nostálgico, se transformou em uma memória de ruínas, assim, no álbum Deira (2024), nome inspirado no hotel de seu pai, temas como identidade, exílio e pertencimento são explorados, combinando sons do Oriente Médio com ritmos contemporâneos. Em entrevista à NPR no final de 2024, Abdelhamid lembra: "Deira foi bombardeada em novembro de 2023. As cores terracota ainda estão lá, mas o interior está todo bombardeado. Essa é a realidade de ser palestino, especificamente de Gaza. Você vê coisas que ama sendo destruídas".

Neste álbum dedicado à sua terra natal, Saint Levant nos leva em uma jornada íntima e política por meio das letras bilíngues e narrativas pessoais. Em seu último lançamento, Love Letters (2025) é um álbum mais sensível que une romance e melancolia, onde pertencimento e deslocamento continuam sendo temas presentes ao longo das canções, formando uma narrativa sobre amor e raízes.
Saint Levant é mais do que um jovem músico de sua geração, ele dá voz àqueles que buscam redefinir e recarregar sua resistência através da arte e da cultura. Seu trabalho não apenas se refere à Palestina mas é uma declaração ao mundo de que eles ainda estão e continuarão aqui, desafiando a narrativa imposta e injusta sobre um conflito que já perdura desde 1948, trazendo uma nova perspectiva pessoal da dor e do amor de ser palestino. Além de ter a coragem suficiente de se posicionar contra a ocupação ilegal de seu território e debater questões tão complexas e atuais que experimentamos no século XXI como o colonialismo e o apartheid.
Sua popularidade crescente gera reflexões sobre o papel da música como ferramenta de resistência em um cenário onde vozes pró-palestina são constantemente reprimidas e censuradas, de modo que o músico utiliza de suas plataformas para ampliar a conscientização e encorajar a solidariedade internacional. Seu impacto vai além da música: ao reivindicar sua identidade e história, ele fortalece a luta de um povo que há décadas resiste à ocupação e ao apagamento cultural.
Nesse sentido, a arte é muito mais que a expressão de uma cultura, mas também uma ferramenta de luta política, na qual o artista utiliza em um momento em que a Palestina é frequentemente suprimida, vítima de um genocídio que têm se arrastado por décadas. Assim, Levant faz questão de trazer em suas músicas a resistência e a esperança lembrando todos aqueles que sofreram, morreram e ainda lutam pelo simples fato de existirem, não só na Palestina mas em todo o mundo.

Vamos ficar aqui … até a dor desaparecer
سوف نبقى هنا .. كي يزول الألم
Vamos viver aqui … a melodia vai se tornar doce
سوف نحيا هنا .. سوف يحلو النغم
Minha pátria, minha pátria … minha pátria de bravura
موطني موطني .. موطني ذا الإباء
[...]
Trecho música On This Land, do álbum Deira, de 2024.
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