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A ultradireita na França e o uso das redes sociais como estratégia política

  • Leonardo Meira
  • 18 de mai.
  • 3 min de leitura

Assim como o vinho, a ultradireita (popularmente extrema-direita), ganha mais adeptos ao passar dos anos, processo contra intuitivo quando pensamos na história como um processo linear de evolução e desenvolvimento. Felizmente, ou não, tudo é passível de mudança, evolução e retrocesso, a história não é Darwinista e muito menos se comporta como um ser orgânico, ela é um processo coletivo e que muitas vezes se expressa de forma cíclica. 

O processo de formação, transformação e disseminação de ideias xenófobas e  extremistas não poderia ser diferente. Durante a Segunda Guerra Mundial, o ódio se apresentou como via política majoritária, os aplausos foram estridentes quando os “salvadores” da nação surgiram em suas imensas apresentações, demonstrando que a humanidade pode não ser tão humana. Muito se engana quem pensa que Hitler era impopular, pelo contrário, na Alemanha as ruas encheram-se com as comemorações, líderes como Benito Mussolini viram com simpatia o novo Fuhrer e até mesmo o ex-príncipe herdeiro alemão Wilhelm declarou apoio ao líder alemão. Como pode todas essas pessoas ignorarem os violentos sinais de violência explícitos na campanha nazista, ou mesmo ler o livro Mein Kampf e não desconfiarem? A resposta é evidente e novamente o mundo está se rendendo ao ódio e ao medo.

A Ultradireita na França

A ultradireita nacionalista e xenofóbica da França foi fundada sob o partido Rassemblement Nationl (RN) em 1972 por Jean-Marie Le Pen e reunia a escória do que hoje chamamos popularmente de extrema-direita. O partido incluía os remanescentes fascistas do pós-guerra, ultranacionalistas e diversas figuras políticas controversas. 

Jean-Marie Le Pen, ao fundar o partido, planejava unificar a extrema-direita fragmentada em diversos grupos. Alguns desses grupos eram os ex-militantes da OAS, que lutou contra a independência da Argélia realizando ataques terroristas na França, neofascistas que se inspiravam no fascismo italiano e no regime de Vichy dentre outros grupos menores. Além disso, Jean-Marie Le Pen, líder do partido, defendeu o uso a tortura contra argelinos e teve diversas falas antissemitas minimizando o Holocausto. 

Naturalmente, o partido e seus ideais repugnantes foram mantidos na insignificância política durante boa parte do século XX. As questões migratórias que o partido veiculava estavam longe de ser prioridade no debate político, as declarações de Le Pen eram rechaçadas e como feito por um Pinot Noir mal armazenado, o vinho de Le Pen parecia estar azedo.

A desdemonização 

A desdemonização é o processo de naturalização da ultradireita, que saiu do marginalismo com Jean-Marie Le Pen, e se tornou uma potência política com sua filha na liderança, Marine Le Pen. Sob a liderança de Jean-Marie Le Pen, o partido era abertamente anti-semita, xenofóbico, anti-União Europeia e se colocava como a opção viável contra o establishment. Com a ascensão de Marine Le Pen, o partido buscou afastar as figuras vinculadas ao anti-semitismo que estavam no partido, tendo inclusive criticado as declarações de seu pai. Ademais, Marine Le Pen evitou declarações abertamente racistas, enfatizando temas de identidade nacional, proteção econômica e segurança. 

Apesar disso, o partido engatou um discurso potente anti-imigração, que ganhou muito mais espaço no século XXI. O discurso pegou, e se espalhou como um vírus letal, se no pós-guerra era inimaginável um partido de “extrema-direita” competitivo, em 2025 temos vários exemplares espalhados pelo mundo. Na França, Marine Le Pen vem crescendo ano após ano, e mesmo com a inelegibilidade após um escândalo no Europarlamento, seu sucessor já é bem evidente, Jordan Bardella. Na Itália, Giorgia Meloni já é primeira-ministra desde 2022, pelo partido Fratelli d'Italia, nos Estados Unidos, Donald Trump chegou ao seu segundo mandato e não esconde seu desejo de destruir a democracia estadunidense, na Argentina, Javier Milei comanda um processo de destruição do Estado Argentino através de privatizações, no Brasil, a sombra do ex-presidente Jair Bolsonaro e seus lacaios cresce no encalço do presidente Lula, que já tem 79 anos e nenhum sucessor visível. 

Mas uma vez o vinho do ódio parece suculento e o mundo aplaude monstros em ascensão. Mas ainda há esperança na luta democrática, a resistência está de pé e não pode aceitar outra década de destruição, talvez o mundo, dessa vez, aprenda com o passado e não assista calado.



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